CAPITULO IV – À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA!



Em 1968 eu estava em São Paulo na casa da outra tia paterna. Havia tomado uma importante decisão: não sair “daqui” sem tirar isto a limpo, custasse o que custasse. O ódio era um imenso deserto de sal dentro do peito. Bebia dos mais radicais revolucionários, todo conhecimento que pudesse me instrumentalizar para a melhor vingança que puderia vir a conceber.

O ódio e a vingança eram o prazer, a parte boa deste “status” de espírito do meu personagem. O contra ponto, a parte ruim, era o intenso e desesperador medo, que com o decorrer do tempo se desdobrou em síndromes de pânico, psicose maníaco-depressiva, síndrome pós traumática e outras fobias crescentes que, aos poucos, foram me tornando cada vez mais impotente para enfrentar o desafio de sobreviver em meio a sociedade de valores romano-judaicos, materialista-religiosista.

Medo e prazer são as duas faces da mesma moeda. “Quanto maior as ambições de um personagem, maiores serão suas contradições” - Técnica para a construção de personagens literários e teatrais.


A genial estratégia de “marketing” de Constantino, por volta de 350 D.C., de incorporar à sua a cultura judaica escravagista, conseguiu dar longa sobrevida ao decadente Império Romano, encobrindo sua arraigada crença no materialismo, com um manto de “virginal religiosismo”. Mestres em inverter valores, conseguiram transformar “sanguinário” em “sagrado”, ambas palavras derivadas de sangue, mas com “justificativas” diferentes.


O nosso EGO, nosso “EU” humano é essencialmente materialista. Não poderia ser diferente, pois nasce de uma “reação” do cérebro, que se antecipa à consciência, tentando fazer-se à frente, já no primeiro maior desafio da vida no planeta, o nascimento. Criado a partir da matéria (reação orgânica), não poderia crer em outra coisa que não fosse a própria matéria.

O EGO só pode crer na realidade, posto que não pode vê-la, atributo exclusivo da consciência. De olhos vendados pelo EGO, o ser esta sujeito a todo tipo de deficiência e a consciência deste, passa a materializar todas as visões do EGO, que se antecipa aos fatos, tecendo uma perversa realidade imaginativa, já que sendo cego, sem consciência, naturalmente teme o mundo, pois sua existência é marcada pelas sucessivas e intermináveis colisões com os fatos, por não poder vê-los. Como não vê o caminho, memoriza-o, tentando evitar futuros desastres e mais dor. Esta memorização dá origem à identidade do EGO, o “EU”, que como um GPS tentará guiá-lo na sua trágica existência. Desde cedo vê-se isolado, separado de tudo e todos pela própria identidade e isto, é motivo de intenso sofrimento. Para não ver a si mesmo no espelho e reconhecer-se como engodo-impotente, vergonha quase que de intolerável sofrimento, se mascara, se encobre com o manto do “sagrado”, imaginado-se alma imortal, quando no seu seio, reside a verdade de sua crença materialista: VAI MORRER! - Desespero total!


Foi assim, inspirado em si mesmo, que a “criatura” criou seu criador, seu “DONO” e à sua mesma “imagem e semelhança”, seu Império Romano, tornando-se o “senhor dos seus exércitos”, ao mesmo tempo acolhendo-o e alimentando-o através dos tempo, como seu fiel povo seguidor!


O gigantesco medo que sentia, não residia somente no acontecimento de ter sido dado como escravo aos romanos. Haviam outras raízes muito profundas que insuflavam com poderosos ventos a vela da vingança, fazendo singrar forte a nau do ódio. Este navegar às cegas, capitaneado nos porões pelo medo, era desastroso. Contundentes sucessivos fracassos financeiros. Dependências doentias em contínuos novos relacionamentos, marcados por desgostos, desilusões, superficialidades e trapaças. Solidão. Isolamento. Tristeza profunda. Inconstância. Imaturidade para levar a cabo experiências de vida, antes de poder aprender com elas. Entretanto enquanto persistia este agonizante afogar-se no social, algo se manteve firme e constante. Uma bússola interior insistia em marcar um norte para aquela navegação. Parece que os revolucionários radicais que havia adotado como oriente, tinham sabedoria verdadeira para indicar uma luz, o tempo todo presente, que indicasse a direção de um porto.

O preço de procurar a verdade para tirar tudo a limpo, custasse o que custasse, era alto. Muito alto! A morte. Para cavar fundo no inconsciente até encontrar a ponta da última-primeira raiz, era necessário vivenciar um a um todos os fracassos. Era preciso deixar que acontecessem. Por baixo de cada um estava uma ponta de raiz do medo maior, primordial. Pelo menos intuía que houvesse um. Cada dor encontrada precisava ser liberada em sua expressão. Cada dor era uma impotência que sustentava um fracasso.

Um fato pode provocar dor. A memória deste fato provoca sofrimento. O pensamento é memória. O “EU” é o pensamento. Parafraseando e corrigindo Descartes eu diria: “Penso, logo... sou o pensamento”! … Existo(?),...não! Pois o pensamento não existe. É uma abstração do real. Como se forma esta abstração?

O corpo é essencialmente memória. Vide o DNA, que é a semente única, mas dá vida a incontáveis tipos distintos de células que formam órgãos e estes o organismo. A matéria é memória. Átomos que se reuniram formando moléculas e estas os mais distintos elementos da natureza. Construída uma ordem funcional ela se mantém por si, passando seus componentes a se atraírem pelas mesmas forças.

O cérebro (repositório de memória), não podendo organizar um acontecimento memorizado pelo organismo, ocorrido quando ainda não dispunha de maturidade, nem dos recursos culturais adquiridos vigentes em uma sociedade, os interpreta, concebendo imagens fantasiosas para explicá-los. Assim eu tinha vívidas imagens sensoriais presenciadas como feto, ocultas da linguagem cerebral. Isto percebido só recentemente. Precisava cavar mais fundo até chegar até elas.

É da natureza racional do cérebro, a linearidade. Assim cada fato novo é disposto em sequência e justificativa aos anteriores. Ou seja, o novo tem que explicar o antigo, para que a história tenha “pé e cabeça”, começo, meio e fim, o que é justamente próprio da materialidade. Isto dá origem ao mundo fantasioso do EGO. Como esta “explicação”, segundo a linearidade do cérebro, não encontra correspondente com a realidade, o cérebro a esconde nas profundezas do inconsciente, para que o indivíduo, não vendo a inexplicável fantasia que fez da realidade, não adoeça de insanidade. Entretanto estas imagens permanecem vivas e recorrentemente vem à tona tentando organizar-se e integrar-se a realidade presente. Para reprimi-las o próprio cérebro concebe a supersticiosidade e mistifica a realidade presente, para que pelo menos ela se torne mais próxima do seu mundo interior, o que equilibra o nível químico do cérebro. Perceba, esta separação entre a memória inexplicada do ocorrido e o presente, dá origem ao inconsciente, como um reservatório do confuso, do inexplicável. Este inexplicável vem a tona principalmente na forma de sonhos. Cria também outro precedente terrivelmente nocivo para a saúde do ser: O TEMPO.

Então como consegui sair deste inferno-labirinto?


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