Depois
do café.
- (Paff – Tapa na cabeça) Presta atenção no que faz! Não faz nada direito. Assim não vai ser nada na vida. Não adianta não querer. Vai ter que trabalhar para comer. Se não vai morrer de fome (Não queria, resistia em fazer direito e com ritmo o trabalho artesanal de enfeites de festas que ela fazia e estava me ensinando)
Depois
de fevereiro do ano seguinte esta rotina passou a acontecer depois de
eu voltar da escola, continuando a tarde! Depois de 5 anos, cursando o
antigo "ginasial", outra foi introduzida. Invariavelmente, todos os
dias, eu varria, passava pano molhado, encerava e passava “escovão”
no terraço, sala e corredor.
Todos
tínhamos uma culpa e medo latentes. Havia uma necessidade de se
penitenciar, implorar perdão e piedade “aO” DONO. As 5
horas da manhã aos domingos e feriados eu era acordado para ir
visitar seu rico e suntuoso
castelo. As pessoas que
frequentavam pareciam estar totalmente dessensibilizadas com a
morbidez do cenário. Pareciam estar resignadas e até contentes com
a intimidação imposta. Haviam cadáveres e gente sendo morta por
todos os cantos. O teto era alto com pinturas retratando pessoas em
calado e perene sofrimento. Logo na entrada havia um grande esquife
de vidro onde se via um cadáver, com um pequeno manto roxo bordado
sob os ombros, de lábios igualmente roxos e sinais de brutais
tortura por todo o corpo. Havia nas paredes do castelo quadros em
alto relevo, relevando em detalhes a tortura sofrida por aquele
indivíduo.
No
átrio do castelo onde deveria estar a cadeira do rei havia, o que
parecia ser uma mesa de sacrifícios e logo acima, pendendo do teto,
ainda preso ao seu instrumento de suplício, o cadáver do mesmo
personagem do esquife e dos dos quadros das paredes do castelo.
“O”
DONO, nunca presente, se fazia representar por capatazes,
encarregados do cerimonial de submissão dos presentes,
invariavelmente bem vestidos em túnicas bordadas e ostentando poder
através de seus anéis, adornos e utensílios de ouro.
Além
das cenas de terror retratadas nos quadros, estátuas e pintura, um
encenação teatral complementar se encarregava de levar aquele medo
inspirado, às raias do pânico, contando que fora o pai do personagem
que justamente o havia entregue à própria milícia, para ser
torturado e morto. Tal espetáculo cruento fazia que, diminuto, me
recolhesse calado, no mais profundo desgosto e desapontamento, dentro
em mim.
“O”
DONO havia conseguido expor com absoluta clareza a terrível dor que
conseguia infringir a quem o desobedecia. A condenação era sumária,
inapelável. O sofrimento, eterno! Aquela família onde eu estava
fora atingida por esta maldição. Eu nunca soube exatamente qual,
mas fora informado que o grave crime que cometera era de ordem
sexual. Algo inconcebível, inadmissível terminantemente proibido e
vigiado 24 horas por dia pel“O” DONO.
Além
da ameaça iminente de sangrentos castigos físicos, “O” DONO,
nos mantinha em contínuo sobressalto com a ameaça de fome,
exaustivos e intermináveis trabalhos forçados. Só estavam livres
deste controle seus fiéis seguidores, executores de suas ordens,
suas milícias e capatazes, a quem ele libertava dando generosas
quantias em dinheiro. Todos os demais tinham que ser trabalhadores
subservientes e dóceis, se contentando em sobreviver com o muito
pouco recebido.
“O”
DONO & seu IMPÉRIO DO DINHEIRO tinham me convidado para seu maior inimigo!
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